AVIAÇÃO MILITAR & DEFESA

MiG-35 é destaque no MAKS 2017

Para quem frequenta o Salão Aeroespacial de Moscou, o MAKS, as aparições deste ano do caça invisível russo, o T-50 (PAK FA), e das mais recentes encarnações da Família Flanker, como os Su-30SM e Su-35, não foram novidade na edição deste ano. Nós já os tínhamos visto antes, em 2015, 2013, etc. Assim, a grande novidade nesta edição, no campo dos caças, foi mesmo a versão de produção em série do MiG-35, o mais novo e avançado membro da Família Fulcrum – que tivera sua apresentação pública oficial há apenas uns meses, no início deste ano, em 27 de janeiro.

No momento, estão sendo testados duas versões, o monoplace (representado pelo protótipo de serial, e o biplace (serial 712), MiG-35UB. Os dois primeiros protótipos recém construídos fizeram seus primeiros voos em novembro do ano passado.

Aqueles de boa memória poderão dizer – “mas não houve um MiG-35, ins dez anos atrás!?”

Houve, sim, mas este MiG-35 atual é de fato um avião bastante diferente daquele exibido há 12 anos (isso, exato), o qual era fruto um programa custeado pela própria empresa, com um demonstrador anteriormente designado MiG-29M, enquanto agora o programa de desenvolvimento está sendo integralmente custeado pelo Ministério da Defesa russo. Ao se completar este, é prevista uma encomenda inicial de 30 MiG-35 pela Força Aérea russa, cujo contrato formal deve ocorrer em fins de 2018, com as primeiras entregas por volta de 2020.

A estrutura deste novo MiG-35 da Força Aérea russa é muito similar a das versões navais embarcadas MiG-29K/KUB, sendo um aperfeiçoamento daquela do MiG-29M original, concebido nos anos 80. As maiores novidades em relação aos MiG-29 “tradicionais” são os tanques de combustível internos de maior capacidade, incrementando em 1.000 litros o total interno; a alteração no design das tomadas de ar, supressão das tomadas de ar auxiliares; um redesenho da fuselagem superior, adquirindo uma pequena “corcunda” que termina na chamada “cauda de castor”, entre os motores. O freio aerodinâmico assumiu uma area maior; assim como as superficies alares de hipersustentação; e o sistema de controle de voo é totalmente novo. Além disso, as asas passam a ter oito pontos de fixação de armas e cargas externas, como tanques extras de combustível. O tempo de vida em serviço da célula é de 6.000 horas, ou 40 anos.

O MiG-29K/KUB, derivado do MiG-29M básico, introduziu um trem de pouso reforçado, asas dobráveis e gancho traseiro, permitindo operações em porta-aviões. O programa se manteve vivo graças à uma encomenda da Índia, e assim o MiG-29K/KUB original foi bastante aperfeiçoado, recebendo um sistema todo novo de gerenciamento de armas, conectado ao radar Zhuk-ME, e diversas melhorias, como aviônica de arquitetura aberta (padrão MIL-STD-1553B), gerenciamento eletrônico dos motores (FADEC) e controle de voo assistido por computador (FBW) digital de quatro canais. As versões hoje oferecidas voaram pela primeira vez em 2007, e depois da India, que adquiriu um total de 45 aeronaves, o MiG-29K/KUB foi também encomendado pela Marinha russa, com 24 exemplares. Assim, como dito

E é deste avião, o MiG-29K/KUB, que o atual MiG-35 é o descendente avançado, mantendo o mesmo projeto básico estrutural (obviamente, sem as asas dobráveis e gancho de pouso), mas com uma suíte de aviônicos bastante mais abrangente e complexa. A designação interna de fábrica, pelo RSK MiG, para o MiG-35 é Izdelye 9-41SR (Produto 9-41SR, o monoplace) e Izdelye 9-47SR, o biplace; sendo que o espaço do assent traseiro no MiG-35UB é usado no monoplace para um tanque de combustível adicional. As turbinas também são as mesmas de seu antecessor naval, os turbofans Klimov RD-33MK, com 5.400kgf em potência e 9.000 kgf em pós-combustão, cada. A vida destes motores é de 4.000 horas de voo, enquanto o tempo entre grandes revisões foi extendido para 1.000 horas de voo.

O novo caça tem o mesmo radar do MiG-29K, o Zhuk-M (para exportação, -ME), com antena de varredura mecânica. Trata-se de um radar moderno e multifunctional, com raio de detecção de um alvo aéreo tipo caça de até 160km, com 120km para um com seção assinatura de radar (RCS) de 5m², podendo acompanhar até dez alvos, e engajar quatro, simultaneamente. Em modo ar-superfície, pode detectar um destroier a 300km, uma ponte a 120km e um tanque a 25km. O sistema de controle de armas compreende ainda o sensor optrônico OLS-UEM, também comum ao MiG-29K. O MiG-35 dispõe ainda, entretanto, de um sistema de alerta de míssil com sensores de ultravioleta, para cobertura esférica, em adição aos sensores laser de alerta, nas pontas das asas.

O cockpit também é similar ao do MiG-29K, dominado por um grande head-up display (HUD) monocromático IKSh-1M e três mostradores multifuncionais coloridos de cristal líquido, com resolução de 1.020×768 pixels. Não há maiores informações sobre o sistema de mira montado no capacete (HMDS), mas este provavelmente será o NSTs-T.

O monoplace já foi apresentado com um pod de aquisição de alvos T220, o qual se sabe que tem estado em testes há já dois anos. Desenvolvido pela NOP SPP, atua para detecção e identificação de alvos, assim como para designação destes para armas guiadas a laser.

Como dito, o MiG-35 possui oito pontos externos de armas, e estas incluem todo o atual arsenal russo de armamentos guiados ar-ar e ar-superfície. Entre os primeiros estão o míssil RVV-SD (R-77-1), para combates além do campo visual (BVR, Beyond Visual Range), e o RVV-MD, para combates próximos (no visual). Já as armas ar-superfície incluem os mísseis Kh-29, nas versões com guiagem por TV e por laser; além do novo Kh-38, e ainda os antinavio Kh-35U e Kh-31A, e o anti-radiação Kh-31P. E o MiG-35 manteve a tradição da família, portanto um canhão interno de 30mm. O total de carga bélica externa pode chegar a seis toneladas; sendo que os quatro pontos de fixação internos servem também para tanques extras de combustível, de 1.500 litros cada; além de um de 2.200 litros que pode ser levado sob a fuselagem, entre os motores. E o caça possui ainda sonda para reabastecimento em voo, podendo inclusive ser usado o método “buddy-buddy”, com outro MiG-35 servindo de reabastecedor, com o pod específico PAZ-MK levado no lugar do tanque de 2.200 litros.

Segundo fontes do RSK MiG, foram tomadas medidas de redução das assinaturas de radar (RCS) e de calor (IR) do caça, utilizando-se materiais especiais de revestimento.

Em sua atual configuração, o MiG-35 visa atender os requerimentos da Força Aérea russa. Em 2019, estarão completos o programa de desenvolvimento, os testes da Força Aérea e terá sido iniciada a produção em série, quando então o modelo poderá ser oferecido a clientes estrangeiros, já como operativo. Até o momento, a encomenda russa é de até 37 aeronaves, mas lotes subsequentes podem vir a ser adicionados. Segundo o Comandante em Chefe da Força Aérea russa, Cel.-Gen. Viktor Bondarev, o MiG-35 deverá substituir todos os caças leves ainda em serviço (que seriam as versões anteriores do MiG-29, hoje somando mais de 60 aparelhos). Uma estimativa conservadora, englobando dois esquadrões, a equipe acrobática Strizhy, e ainda aparelhos para os centros de instrução de combate; aponta para até 40 aviões, sendo que o maior fator “inibidor” de maiores encomendas é a falta de fundos disponíveis (pela redução geral do orçamento militar), e a existência de prioridades maiores.

Quanto ao mercado internacional, há ainda pouco para se avaliar as chances do MiG-35, mas pode-se dizer que os maiores clientes potenciais são do “clube” de operadores do MiG-29, como a Bielorrússia e o Kazaquistão, além de parceiros fiéis como a Argélia, Vietnã e, talvez, a própria Índia.

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