A chegada dos primeiros caças F-16 à Ucrânia representa uma nova fase na arena aérea da guerra contra a Rússia. Agora, ficam três questões a serem respondidas ao longo das próximas semanas: a efetividade desses caças em mudar o cenário do conflito, a eficácia do treinamento acelerado recebido por pilotos ucranianos e a possibilidade de contra-ataques da Rússia.
Contra-ataques
Este terceiro aspecto é tema de preocupação dos próprios ucranianos. De acordo com a revista britânica The Economist, no último dia de julho, a Ucrânia recebeu dez caças F-16, todos usados pela Dinamarca. Até o fim do ano, seriam recebidos mais dez jatos. E para 2025, a expectativa é de um total de 79 entregas feitas pela Dinamarca e pelos Países Baixos (Holanda). Bélgica e Noruega pretendem ampliar esse quantitativo. A preocupação é de onde essas aeronaves vão operar: suas bases se tornam alvos prioritários para as forças russas, que já mostraram capacidade de realizar ataques a longas distâncias em qualquer parte do território ucraniano.
Desde o mês de junho, a Rússia intensificou ataques em aeródromos da Ucrânia. Moradores de regiões próximas a pistas de pouso já demonstraram preocupação por conta da elevação de ataques em áreas que antes eram bombardeadas com menos intensidade, por estarem longe do front. Declarações de autoridades ucranianas já deram a entender a possibilidade de os F-16 eventualmente operarem de países vizinhos, o que levou a Rússia a alertar que estes locais se tornariam imediatamente alvos legítimos.
No início de julho, a Rússia informou ter destruído cinco caças Sukhoi Su-27 Flanker da Ucrânia com um ataque com mísseis Iskander-M em um campo de pouso localizado em Myrhorod, na região central do país. A Ucrânia confirmou o ataque, mas disse que os resultados não tinham sido estes.
Na apresentação dos F-16 realizada com a presença do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, foi comunicado claramente que se trata de uma base “fora de Kiev”. De fato, os sistemas de defesa antiaérea da Ucrânia não têm conseguido proteger o país contra os ataques russos e a localização dos F-16 se torna uma informação de inteligência significativa. Há a expectativa de que tenha sido criada uma rede de abrigos subterrâneos em diversas localidades distintas.
Capacidades
Imagens dos F-16 ucranianos divulgados pela própria Ucrânia mostravam os caças F-16AM com mísseis AIM-9 Sidewinder, de curto alcance, e AIM-120 AMRAAM, para combate além do alcance visual. Há a expectativa de os jatos também receberem bombas guiadas do tipo JDAM-ER e GBU-39 SDB. É provável também o uso dos mísseis anti-radar AGM-88 HARM, já adaptados para aeronaves de origem soviética, em uso na Ucrânia, como os Sukhoi Su-24 Fencer.
Também está evidente o uso de algumas tecnologias, como os capacetes com mira integrada Joint Helmet Mounting Cueing Systems (JHMCS) e suporte para pods de guerra eletrônica e sistemas. Porém, ainda que modernizadas, são aeronaves ainda da versão F-16A, contando, por exemplo, com radares AN/APG-66, inferiores aos modelos do tipo AESA atualmente em uso nas versões mais avançadas.
Invariavelmente, esses F-16AM são mais modernos que os MiG-29 em uso na Ucrânia, remanescentes da época em que o país estava sob a esfera de influência na União Soviética. Resta saber o quanto a chegada dessas aeronaves fará diferença no conflito, seja na tentativa de obter alguma superioridade aérea, seja na possibilidade de realizar ataques de precisão.
Treinamento
Não é simples dominar um caça avançado como o F-16, muito menos para aviadores que vinham de uma cultura aeronáutica bem distinta. Por isso mesmo, há questionamentos a respeito da capacidade dos pilotos ucranianos para dominar os novos caças. No fim de maio, a primeira turma, formada por um número não divulgado de aviadores, foi declarada como formada no treinamento oferecido pela United States Air Force no estado do Arizona. Esses aviadores iriam ainda passar por treinamentos em outras nações, conforme divulgado na época. Na prática, são só dois meses entre a conclusão do curso de F-16 e o início das missões reais na guerra.
De acordo com o conglomerado de mídia norte-americano Politico, em maio, a Ucrânia manifestou sua frustração com o treinamento oferecido pelos Estados Unidos. Naquele momento, 30 aviadores ucranianos já estariam prontos para serem formados como pilotos de F-16, porém, o ritmo de formação das turmas estaria abaixo do esperado. O mesmo valeria para a formação dada pelos parceiros europeus, incluindo o centro de treinamento na Romênia.
Ainda de acordo com a publicação norte-americana, o número de pilotos da Ucrânia treinados para voarem o F-16 deverá chegar a apenas 20 até o fim deste ano.
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