Após apostar em empresas estrangeiras como principais atores para iniciativas na área espacial, sem o sucesso esperado, o Brasil retomou o foco nacionalista para o setor. Em 29 de novembro, com grande destaque midiático, foi lançado a partir do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), no Rio Grande do Norte, um foguete suborbital VS30 V15, ao passado em que avança para a criação da empresa estatal Alada, focada no setor.
No caso do lançamento do VS30 V15, o Comando da Aeronáutica destacou a tecnologia 100% nacional do foguete de sondagem. Lançado às 13h19, o foguete cumpriu a trajetória prevista pelos técnicos e engenheiros da operação, com os sistemas de telemetria e resposta radar funcionando corretamente durante todo o voo. O VS30 V15 ficou no espaço por 2 minutos e 50 segundos, sendo que a missão completa durou 5 minutos e 50 segundos.
Um dos maiores objetivos do lançamento foi dar maior autonomia para o Brasil em eventos de lançamento deste tipo de veículo. Na segunda fase da Operação Potiguar, programada para o segundo semestre de 2025, o CLBI vai usar outro foguete de mesmo modelo para qualificar o sistema de recuperação da parte superior do veículo, conhecida como plataforma suborbital de microgravidade (PSM). Essa parte é composta por um compartimento para experimentos e diversos sistemas eletrônicos que interagem com a carga útil.
Desenvolvido pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), da FAB, em parceria com diversas empresas da base industrial brasileira, o foguete de sondagem integra a família S30. O projeto, iniciado em 1996, abrange, ainda, o VSB30 e o VS30 Orion (versão descontinuada). Até hoje, foram realizados 55 lançamentos envolvendo estes engenhos.
Os veículos suborbitais, embora não atinjam capacidade para entrar em órbita, atingem altitudes que ultrapassam a atmosfera. Eles são utilizados em experimentos científicos e tecnológicos que interessam a diversas indústrias, como a de fármacos, produtos metal mecânicos, alimentos, cosméticos e muitas outras.
Nova estatal
Já tramita no Congresso Nacional a proposta de lei para criação da Empresa de Projetos Aeroespaciais do Brasil S.A. (ALADA), uma nova estatal missão de fortalecer a indústria aeroespacial nacional e maximizar o potencial estratégico do país no setor. A proposta de criação da ALADA foi assinada em outubro deste ano pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
De acordo com a proposta, a ALADA será subsidiária da NAV Brasil, estatal vinculada ao Ministério da Defesa, criada em 2020 para cuidar dos serviços de navegação aérea, como operação de radares e medição meteorológica, antes a cargo da Infraero. Agora, a ideia é alavancar oportunidades oferecidas pelo Brasil, com destaque para o Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, cuja localização privilegiada permite lançamentos mais eficientes e competitivos.
A empresa terá como eixos estratégicos de atuação o serviço de lançamento espacial; o gerenciamento de projetos aeroespaciais e a exploração econômica de produtos e serviços aeroespaciais. Entre os serviços e projetos estratégicos previstos estão a operação de foguetes suborbitais – capazes de alcançar o espaço sem entrar em órbita –, além da integração de motores aeronáuticos e VLMs (veículos lançadores de microssatélites) em parcerias com fornecedores especializados. A empresa terá um papel fundamental nos serviços de lançamentos espaciais e no gerenciamento de projetos de sistemas aeroespaciais, promovendo a inovação no setor.
Entre os serviços e produtos estratégicos da ALADA estão o lançamento e a comercialização do foguete VSB-30 – capaz de alcançar o espaço sem entrar em órbita -, além do gerenciamento de projetos de motores aeronáuticos e de VLMs, em parceria com empresas especializadas. Além disso, a ALADA ficará responsável pela assessoria no processo de obtenção de patentes, promovendo a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias estratégicas. Com essas atribuições, a estatal busca atrair investimentos e ampliar o protagonismo brasileiro na indústria aeroespacial global.
Frustração com o setor privado
No governo anterior, a expectativa era de um uso intenso do Centro de Lançamento de Alcântara com base na exploração de empresas estrangeiras. Em 2019, o Brasil aceitou o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas com os Estados Unidos, documento que garante que brasileiros não iriam ter nenhum ganho de conhecimento tecnológico das empresas que viessem operar no centro de lançamento brasileiro. Em 2022, a Presidência da República chegou a conceder ao empresário Elon Musk a medalha da Ordem do Mérito da Defesa, mesmo sem compromissos de lançamentos da SpaceX no CLA.
Em realidade, só um lançamento privado foi realizado até agora. Em março de 2023, decolou do CLA o foguete sul-coreano HANBIT-TLV. Com 8,4 toneladas e 16,3 metros de altura, o foguete levou o Sistema de Navegação Inercial (SISNAV), desenvolvido no Brasil. Não houve ainda, portanto, o uso comercial do CLA. Com o Acordo de Salvaguardas, além da Innospace, outras companhias prepararam para operar a partir da base brasileiras, como a C6 Launch, Virgin Orbit, Orion Ast e a Vaya Space. Porém, nada mais ocorreu até o momento.
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