O Bandeirante não só é uma aeronave histórica: é um avião querido. Com tantas unidades civis e mais de uma centena nas cores da Força Aérea Brasileira, o pioneiro da Embraer acabou nas lembranças de milhares de brasileiros. Gente que voou pela primeira na vida nele, que chegou a uma nova cidade com toda a família a bordo de um “Bandéra” ou mesmo que se orgulha de ter cumprido tantas horas de voo em um avião nacional.
Essas histórias sobre o Bandeirante estiveram juntas no dia do lançamento do livro “O voo do impossível”, do jornalista Claudio Lucchesi, editor da revista Asas. Na livraria da Vila do Shopping Iguatemi JK, em 21 de fevereiro, se reuniram civis e militares. Em comum, todos queriam ler o livro, claro, e também conversar sobre as tantas histórias.
O próprio Ozíres Silva reservou para a noite do lançamento uma história sua com o Bandeirante. Foi sobre a primeira vez em que comandou o modelo, apenas doze dias após o voo inaugural do protótipo. Totalmente engajado no desenvolvimento da aeronave, a oportunidade de assumir a cabine foi rechaçada pelos superiores. Ozíres Silva seria muito importante para correr o risco de sofrer um acidente. A resposta dele foi dura: “Voar no meu avião não é um risco”. E voou.
Até quem nunca pilotou o Bandeirante sorri ao lembrar das histórias da aeronave. Nos tempos de oficial de operações do Esquadrão Pampa, o Tenente-Brigadeiro Paulo João Cury via o avião de transporte como estratégico. Eles desmontaram uma fonte externa necessária para acionar um F-5 e, juntamente com suprimentos e um pequeno grupo de mecânicos, levava o cargueiro para qualquer pista que pudesse receber os caças. “Com o apoio do Bandeirante, conseguíamos levar um F-5 para qualquer pista capaz de recebê-lo. E rápido”, conta.
A história reserva um capítulo anterior à vida militar. Os quinze anos de idade, antes mesmo de ser cadete, o então jovem Cury trabalhou na Embraer como aprendiz de eletricista. Porém, sua maior lembrança está em Natal (RN), onde desde a década de 80 o Bandeirante tem sido usado para instrução. “É um avião muito importante para a Força Aérea Brasileira. Formou gerações inteiras”, conta.
Não por acaso, o comandante do 3º Esquadrão de Transporte Aéreo, Tenente-Coronel Fábio Silva, e outros militares da unidade aérea, sediada na Ala 13 (Santa Cruz), estiveram presentes. Chamada de “Pioneiro”, o 3º ETA foi a primeira a operar o Bandeirante na FAB, que se mantém até hoje, atualmente em sua versão modernizada. Em um encontro entre a experiência e a modernidade, os militares da ativa cumprimentaram Ozíres Silva. “O mais importante, senhor, é que até hoje voamos o avião muito bem”, destacou o Tenente-Coronel Fábio Silva.
Pioneirismo e inovação
Na década de 70, uma criança embarcou no aeroporto de Congonhas para um voo a bordo de um Bandeirante. Décadas depois, o então menino ainda lembra da cortininha na janela, mas já conhece muito mais de aviões, afinal, agora ele é presidente da empresa que um dia fabricou aquela aeronave.
À frente da Embraer, Paulo César de Souza e Silva, não poupa elogios aos seus precursores. “A Embraer jamais poderia estar onde está hoje se não tivesse havido o Bandeirante. É uma história fantástica, uma história de paixão, de compromisso, de sonho”, afirma.
Para o presidente da companhia, a vontade de sempre criar algo novo é a própria síntese da história da Embraer, e por isso novos passos sempre precisam ser dados. “A criação da Embraer e depois a privatização, tudo isso foram movimentos importantes, como é também muito importante o movimento que estamos fazendo agora nessa parceria com a Boeing”, explica.