Política econômica e direitos sociais são dois dos principais temas em jogo nas eleições para a escolha do novo presidente da Argentina, a ser realizada hoje. Porém, a escolha nas urnas pode definir o futuro da força aérea do país, onde o lobby norte-americano pela venda de caças F-16 também enfrenta as tentativas chinesas pelo JF-17 Thunder. Enquanto um candidato representa o governo atual, que tem feito negociações com ambos os fornecedores, a escolha pelo opositor significaria a eliminação política da proposta da China.
Historicamente, nem governos mais à esquerda nem à direita têm feito muito pelo reequipamento das forças armadas argentinas nas últimas décadas. Entre liberais, conservadores, peronistas, democráticos ou mesmo ditadores, o fato é que o país vizinho não recebe novos caças supersônicos desde o início dos anos 70. Atrasos, cancelamentos e negociações pouco produtivas têm marcado as dificuldades para operação de novos jatos supersônicos – a Argentina hoje está limitada a um punhado de A-4AR Fightinghawk, todos subsônicos.
O atual governo, do qual o candidato Sergio Massa faz parte, já prevê recursos nos orçamentos de 2024, 2025 e 2026 para a incorporação de caças multifunção. Ao mesmo tempo, tem mantido diálogo com a China e com os Estados Unidos ao longo dos últimos meses. As potências respectivamente, caças novos JF-17 Thunder e usados F-16 Fighting Falcon. Ter tido a autorização para compra dos jatos norte-americanos foi considerado uma vitória política e serve também para que a Argentina possa negociar com os chineses os valores para a compra do JF-17.
Porém, a crítica ao atual governo foi a demora. Foram anos de negociação sem que um negócio tenha sido assinado, ainda que a autorização dos EUA tenha saído só em agosto. Já o candidato da oposição, Javier Milei, deixou clara a intenção de não fazer negócios com a China. Caso seja eleito, ficará definido quem será o fornecedor de material bélico para a Argentina.
A proposta norte-americana significou a autorização do governo e do congresso do país para que a Dinamarca venda caças F-16 aos argentinos. Seriam até seis F-16A/B e 32 F-16 Block 15, pelo valor de US$ 339 milhões. O pedido também incluiria a luz verde para a oferta, também por parte da Dinamarca, de quatro P-3 por US$ 108 milhões. O atual governo já exerceu essa segunda compra.
A possibilidade de depender da compra de caças usados de potências ocidentais assusta parte dos militares argentinos. O último governo de direita, de Maurício Macri, teve como grande investimento na área a compra de cinco Super Étendard Modernisé 5s da França. As aeronaves chegaram a ser disputadas entre a marinha e a força aérea, mas efetivamente nunca voaram e, em 2023, o governo decidiu desistir da tentativa de torná-las operacionais por conta da falta de suprimentos.
A proposta de venda dos F-16 sofre críticas pelo mesmo temor. As aeronaves usadas pela Dinamarca estão em estado discutível, com cerca de 40 anos de serviço. Os jatos chegaram a ser ofertados para a Turquia, mas o país recusou a oferta. Um dos fatores é que a vida útil restante desses F-16 é avaliada em apenas mais dez anos. São caças em serviço desde os anos 80, que passaram por modernização, mas estão em um padrão bem abaixo dos F-16 das versões mais recentes.
Os F-16 da década de 80 seriam uma opção menos avançada que o próprio JF-17 Thunder, tendo ainda a desvantagem da vida útil menor. Na oferta chinesa, seriam compradas aeronaves novas, versão Block III, com radar AESA e mira no capacete. O Paquistão, que opera o F-16, garante que são aeronaves equivalentes. Por outro lado, a China não incorporou o JF-17 à sua própria força aérea.
Outra questão ainda reside na própria autorização. Com a compra do F-16, os argentinos ficariam dependentes de luz verde dos Estados Unidos para cada nova compra de armamentos ou mesmo de novos lotes da aeronave. Já a parceria China-Paquistão oferece independência tanto no pacote de armamentos quanto para compras adicionais.
Por fim, os Estados Unidos se comprometeram a facilitar o financiamento de 40 milhões de dólares, valor suficiente para compra de parte do pacote oferecido pelo governo da Dinamarca. Porém, a China tem uma proposta bem maior: a própria ida do presidente argentino ao país envolve a possibilidade de acordos referentes ao projeto da “Nova Rota da Seda”, uma iniciativa da China de investimentos internacionais que tem sido comparada ao “Plano Marshall”, desenvolvido pelos EUA após a Segunda Guerra Mundial.
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