Quando pensamos em Alemanha, a ideia de condições ideais logo vem à mente. Mas dois episódios recentes colocaram a credibilidade da Força Aérea Alemã em xeque.
O primeiro foi em maio: a revista Der Spiegel denunciou que só quatro dos 128 caças Eurofighter estavam em condições operacionais. A mais recente foi no último fim de semana, quando a Chanceler Ângela Merkel perdeu a abertura do encontro do G20 em Buenos Aires simplesmente porque a força aérea do seu país não conseguiu levá-la a tempo.
Na realidade, a líder da quarta economia do mundo e do quinto IDH mais elevado esteve envolta em uma grave situação de emergência. O Airbus A340 batizado de “Konrad Adenauer”, matrícula 16+01, sofreu uma pane elétrica e ficou com dificuldades inclusive de comunicação. Só um sistema alternativo de SATCOM possibilitou a coordenação com o controle aéreo.
A aeronave já estava em voo sobre a Holanda, mas deu meia volta e pouso em de emergência em Colônia: os bombeiros correram para o Airbus, que só abriu as portas após uma inspeção externa. Testemunhas relatam um pouso mais “duro” que o normal, com superaquecimento do sistema de freios.
Prontamente a Força Aérea da Alemanha explicou que devido à pane elétrica não foi possível drenar combustível do jato, então o peso para pouso foi elevado, já que inicialmente era planejada uma rota direta até a Argentina. Vários jornalistas que acompanhava a comitiva relataram o profissionalismo da tripulação e não houve pânico.
Mesmo assim, Merkel passou pelo constrangimento de perder um dia do encontro do G20, que durava apenas dois. A reunião com o primeiro ministro chinês foi uma das principais agendas comprometidas.
A mandatária dormiu em Bonn, cidade vizinha à Colônia, e no dia seguinte seguiu em uma outra aeronave da Força Aérea da Alemanha para Madrid, de onde pegou um voo comercial da Iberia até Buenos Aires. Deixou para trás uma comitiva de jornalistas sem espaço nos voos e a ironia da imprensa alemã, que criou “memes” sobre a forma “diferente” como a chanceler “preferiu” ir ao G20.
O pouso em Colônia não parece ter sido uma escolha à tôa. A cidade é a base da frota VIP da Força Aérea da Alemanha desde os tempos em que Bonn era a capital da antiga Alemanha ocidental. Lá havia um segundo A340 disponível, porém as autorizações para voo iriam ficar inválidas.
Angela Merkel publicamente agradeceu o profissionalismo dos pilotos e afirmou que problemas pontuais não iriam determinar a troca de uma aeronave. A Força Aérea da Alemanha ressaltou em nota que os dois A340 foram construídos em 199 e 2000, tendo um índice de falhas de 2% operações que geralmente chegam a 2.500 horas anuais.
Porém, enquanto parte da imprensa alemã insinuava a possibilidade de ter sido uma sabotagem, o jornal Deutsche Welle lembrou de um histórico de falhas. Em julho, o presidente alemão, Frank-Water Steinmeier, atrasou na Bielorrúsia por conta de uma falha no sistema hidráulico no A340 “Konrad Adenauer”. Na semana anterior ao incidente com Merkel, o presidente passou por uma emergência a bordo do outro A340, o “Theodor Heuss”.