Steven F. Udvar-Hazy Center do Smithsonian National Air & Space Museum
Washington D.C., EUA
Da Redação
Possuidor da maior coleção de aeronaves e espaçonaves do mundo, com uma visitação média anual de nove milhões de pessoas, o National Air & Space Museum (NASM) do Smithsonian Institute, em Washington D.C., ganhou um “anexo” (se é que se pode chamar assim ao magnífico conjunto arquitetônico construído junto ao Washington Dulles International Airport!) de 71.000 m2, aberto ao público em 15 de dezembro de 2003, fruto de uma doação de US$ 65 milhões feita pelo imigrante húngaro Steven F. Udvar–Hazy, co-fundador de uma das maiores empresas de leasing de aeronaves do mundo, a ILFC-International Lease Finance Corporation.
A coleção colocada nesta nova unidade do NASM está acima de adjetivos que a qualifiquem adequadamente, incluindo não apenas aeronaves realmente únicas no mundo, mas mísseis, foguetes, espaçonaves e diversos outros itens ligados à história da aviação e da conquista do espaço.
Nesta matéria, portanto, oferecemos “apenas” um aperitivo. Um créme de la créme deste acervo absolutamente estonteante…
Steven F. Udvar-Hazy Center do Smithsonian National Air & Space Museum
Website: airandspace.si.edu/udvarhazy
E-mail: NASM-VisitorServices@si.edu
Endereço: 14390 Air and Space Museum Parkway, Chantilly, Virginia, EUA
Horário de visitação: abre todos os dias (exceto 25 de dezembro), das 10h00 às 17h30, com horário ampliado no verão (24 de maio a 2 de setembro): 10h00 às 18h30.
Entrada: franca.
Estacionamento público: US$ 15,00 (gratuito à partir das 16h00).
São pouquíssimas as aeronaves que com certeza tem um lugar de destaque na história da Humanidade, e o Boeing B-29A Superfortress “Enola Gay” certamente é uma destas, tendo protagonizado o primeiro ataque com arma nuclear, a bomba atômica “Little Boy”, em 6 de agosto de 1945, contra a cidade japonesa de Hiroshima, com a morte imediata de 80 mil pessoas (a radiação e ferimentos elevariam posteriormente o número de vítimas fatais a mais de 100 mil). O mundo nunca mais seria o mesmo…
Não por acaso, a preservação e (sobretudo) a exibição pública do “Enola Gay” sempre foram um assunto delicado, com o aparelho tendo permanecido estocado, mas não restaurado, por anos. E sua primeira apresentação pública, ainda não totalmente restaurado, na unidade original do NASM em Washington D.C., foi motivo de acalorada polêmica, em 1995. Enfim, hoje ele pode ser visto inteiro no Steven F. Udvar-Hazy Center, e não se pode deixar de mencionar que, a parte a atuação específica do “Enola Gay”, o B-29A foi em si uma aeronave revolucionária, o mais sofisticado e avançado bombardeiro pesado da 2ª Guerra Mundial, estabelecendo novos parâmetros e tendo sido usado em ação pelos EUA até mais tarde, na Guerra da Coréia (1950-53).
Dificilmente merecedor de adjetivos como belo ou gracioso, o curioso anfíbio norte-americano Loening OL (também conhecido como Loening Amphibian) voou pela primeira vez em 1923, sendo adotado como aeronave de observação, biplace, tanto pelo USAAC (United States Army Air Corps, Corpo Aéreo do Exército) quanto pela USN (United States Navy, Marinha), dos EUA, com uma produção total de 165 exemplares.
Tendo feito seu primeiro voo em 12 de fevereiro de 1931, o interessante Curtiss F9C Sparrowhawk foi criado para ser um “caça parasita” – ou seja, carregado por outra aeronave em pleno voo, da qual se alijava em caso de necessidade (como o ataque de caças inimigos), dando proteção à nave-mãe. No caso do F9C, esta eram os dois grandes dirigíveis da Marinha norte-americana, o Akron e o Macon. Apenas sete destes biplanos foram construídos e seu sistema de enganchamento permitia que voltassem à se prender à nave-mãe após a missão.
Único bombardeiro da 2ª Guerra Mundial projetado para ser operado à partir de submarinos, o japonês Aichi M6A1 Seiran nunca chegou a cumprir os ambiciosos planos previstos pela Marinha Imperial – como bombardear o Canal do Panamá. Podia levar até 850kg de bombas e atingia 475km/h, O exemplar em exibição é o único preservado no mundo.
Com uma configuração peculiar, o caça bimotor norte-americano Lockheed P-38 Lightning com certeza marcou o seu lugar nos sangrentos céus da 2ª Guerra Mundial, atuando desde a Europa até o Pacífico. Entre os nomes lendários que o pilotaram estão o mítico piloto e escritor francês Antoine de Saint-Exupéry e o maior ás dos EUA no conflito, Richard I. Bong (40 vitórias), que inclusive realizou um voo de testes exatamente na aeronave preservada no museu.
Com apenas 479 exemplares construídos, o Nakajima J1N1 Gekko foi um caça “pesado”, bimotor, da Marinha Imperial japonesa, na 2ª Guerra Mundial, tendo entrado em serviço em 1942. Conhecido pelos Aliados pelo codinome “Irving”, foi empregado também como caça noturno, reconhecedor e para ataques suicidas (kamikaze). O exemplar no museu é o único Gekko preservado no mundo, sendo da variante de caça noturno, J1N1-S, com radar de interceptação no nariz.
Primeiro avião norte-americano projetado especificamente como caça noturno, o Northrop P-61C Black Widow fez seu voo de estréia em 1942 e entrou em serviço dois anos depois. Dotado de radar de interceptação, era armado com quatro canhões de 20mm e quatro metralhadoras de 12,7mm, atingindo 684km/h.
Um dos tesouros do museu, o Dornier Do-335A Pfeil em exibição é o único exemplar hoje sobrevivente deste caça alemão da 2ª Guerra Mundial, um dos aviões a pistão mais velozes já construídos, capaz de 763km/h. Armado com um canhão de 30mm e dois de 20mm, seu primeiro voo ocorreu em setembro de 1943, mas não houve tempo de ser produzido em série, antes do fim dos combates.
Sendo um entusiasta e pioneiro mundial do conceito de “asa voadora”, o norte-americano “Jack” Northrop tornou realidade o seu sonho em 3 de julho de 1940, com o primeiro voo do modelo experimental N-1M, dotado de dois motores a pistão Franklin 6AC264F2, de 120hp cada. Mais tarde, viriam os protótipos de bombardeiros estratégicos XB-35 e YB-49, até se chegar aos bombardeiros stealth Northrop B-2 Spirit, hoje em serviço na USAF (Força Aérea norte-americana).
Outro tesouro no Steven F. Udvar-Hazy Center, o Arado Ar-234B Blitz do museu é o único exemplar preservado deste que foi o primeiro bombardeiro a jato do mundo (veja matéria nesta edição). Este aparelho serviu na 2ª Guerra Mundial no KG 76, da Luftwaffe (Força Aérea alemã), a partir de dezembro de 1944, vindo a ser capturado por tropas britânicas na Noruega, em maio de 1945.
Símbolo das medidas extremas japonesas no período final da 2ª Guerra Mundial, o Yokosuka MXY-7 Ohka era literalmente um “míssil cruise tripulado”, com propulsão foguete, para ser usado em ataques suicidas (kamikaze) contra a Marinha norte-americana. Seu primeiro voo motorizado foi feito em novembro de 1944, e em serviço, deviam ser lançados de bombardeiros Mitsubishi G4M adaptados. Apesar de 852 terem sido construídos, o único navio comprovadamente afundado por um Ohka foi o destroier Mannert L. Abele, em 12 de abril de 1945.
Designado JL-2 pelo Exército norte-americano, o Loon foi uma cópia produzida no pós-guerra da “bomba voadora” germânica V-1 (de fato, um dos primeiros mísseis cruise da história). Feito pela Ford Motors, tinha 8,2m de comprimento e um alcance de 242km, podendo ser disparado de lançadores terrestres, em navios e até submarinos. Mas o programa acabou cancelado em 1950, com a adoção do mais aperfeiçoado míssil Regulus.
Tendo feito seu primeiro voo em 22 de dezembro de 1964, o Lockheed SR-71 Blackbird entrou em serviço dois anos depois na USAF (Força Aérea norte-americana), e apesar de ter sido “aposentado” em 1998, continua sendo o jato militar mais veloz a já ter sido operado por qualquer país, atingindo 3.620km/h (Mach 3.3). O exemplar no museu operou por 24 anos, atingindo 2.800 horas de voo, e seu último voo, em 6 de março de 1990, tripulado pelo Ten.-Cel. Ed Yeilding e Ten.-Cel. Joseph Vida, estabeleceu um recorde no percurso Los Angeles-Washington D.C., com 1h04min20seg!
Primeiro avião comercial do mundo com cabine pressurizada, o Boeing 307 Stratoliner voou pela primeira vez em fins de 1938. Podia levar 33 passageiros, voando a quase 400km/h, e um conforto então inédito, por poder voar acima de formações atmosféricas de tempo ruim, como tempestades. O exemplar do museu operou com a Pan American Airways, batizado de “Clipper Flying Cloud”, e foi restaurado em 2001.
Revolucionário e divisor de águas na aviação comercial mundial, o quadrijato Boeing 367-80 (o lendário “Dash 80”, visto no museu) voou pela primeira vez em 15 de julho de 1954, entrando em produção três anos depois, na sua primeira versão de série comercial, o Boeing 707-120. Considerado o avião que definitivamente colocou o transporte aéreo na Era do Jato, com mais de 1.000 exemplares produzidos; e o modelo também gerou uma longa linha de versões e variantes militares, muitos ainda hoje em serviço, como os aviões AWACS (alerta antecipado por radar) E-3 Sentry.
Primeiro supersônico do mundo a entrar em serviço comercial, em 1976, e até hoje, o único do Ocidente, o Aerospatiale/BAe Concorde era capaz de cruzar o Atlântico a 2.179km/h. Curiosamente, o exemplar do museu, de registro francês F-BVFA, foi doado pela Air France em junho de 2003, tratando exatamente do aparelho que, por esta companhia aérea, fez os primeiros voos do Concorde para o Rio de Janeiro; e também para Washington D.C. e New York, nos EUA.
Parecendo tímido ao lado dos Blackbird e Concorde, o pequeno Vought-Sikorsky XR-4 todavia não é menos relevante que aqueles, tratando-se do protótipo do primeiro helicóptero produzido em larga escala no mundo, o R-4 – dos quais 20 chegaram a operar em Burma, nos meses finais da 2ª Guerra Mundial.
O space shuttle (“ônibus especial”) Enterprise foi o primeiro de sua classe a ser construído, e de fato serviu para testes de voo na atmosfera e avaliações em solo, nunca tendo ido ao espaço. Sua primeira aproximação e pouso, no centro da NASA (agência espacial norte-americana) em Dryden, Califórnia, foi feito em 1977; e em 1985, o veículo foi adquirido pelo NASM.
Tenho vontade de conhecer esse museu um dia, deve ser fantástico passar o dia vendo esses aviões e as histórias de cada um deles.