Passadas quatro décadas da Guerra das Malvinas, argentinos e britânicos já têm relações diplomáticas normalizadas e militares de ambos os países falam do conflito em tom de camaradagem. Mas há um tema que ainda é polêmico: de um lado, argentinos afirmam que há exatos 40 anos conseguiram atacar com sucesso o porta-aviões HMS Invencible. Por outro, os britânicos sustentam ter sido um engano.
A situação já era desesperadora para as forças enviadas por Buenos Aires. Os britânicos haviam desembarcado com sucesso no arquipélago e a superioridade aérea estava claramente do lado deles. Restava aos argentinos um único míssil Exocet para os jatos Super Étendard, e ele teria que ser bem utilizado.
Naquele 30 de maio de 1982, dois Super Éterdard da Armada decolaram às 12h30 (horário local), um deles com o derradeiro míssil. Foram acompanhados por quatro A-4C Skyhawk da Fuerza Aérea Argentina. Após uma rota em direção sul, fizeram o reabastecimento em voo e rumaram para o norte, onde se supunha estar o porta-aviões da Royal Navy.
A missão envolveu três esquadrilhas: Ranquel, com dois KC-130 Hércules; Ala, com os Super Étendard pilotados pelo capitán de corbeta Alejandro Francisco e pelo teniente de navío Luis Collavino; e pela esquadrilha Zonda, com os A-4 comandados pelos tenientes José Vásquez, Ernesto Ureta e Omar Castillo, além do aspirante Gerardo Isaac. Estes teriam a parte mais arriscada da missão.
A 300 km, os seis jatos baixaram para um nível de voo a 30 metros sobre a água, com os Skyhawks cerca de 1.500 metros atrás. A 100 km da posição estimada, os dois Super Étendard, subiram e ligaram seus radares, detectando alvos. Repetiram a tarefa a 75 km, 45km e 35 km, quando finalmente o Exocet foi lançado pelo capitán de corbeta Alejandro Francisco contra o maior alvo que aparecia no radar. Eram aproximadamente 14h32. Os dois jatos com radar abandonaram o rumo, mas os quatro Skyhawk seguiram o míssil. Era uma missão praticamente suicida.
E foi, com taxa de sobrevivência de 50%. Mesmo a versão argentina da história reconhece isso. A cerca de 13 km do alvo, o teniente Vásquez foi atingido fatalmente por um míssil antiaéreo. A 1,8 km foi a vez do teniente Castillo. Ernesto Ureta e Gerardo Isaac conseguiram lançar suas bombas e atirar dezenas de vezes com seus canhões de 20mm. O primeiro disse que elas atingiram o convés do navio, enquanto o segundo teria atingido o costado. Ambos sobreviveram ao voo e garantem a veracidade dos seus relatos. O aspirante até afirma ter visto o navio envolto em fumaça, o que significaria o impacto do Exocet.
Naquele dia, os dois sobreviventes da esquadrilha Zonda se separaram e voltaram ao continente sozinhos, dado o risco de interceptação. Conseguiram escapar. Fizeram um novo reabastecimento e pousaram em segurança em Río Grande às 16h23. Os Super Étendard estavam lá desde às 15h30. Foram quase 1.300 km de voo.
A estação-radar da Fuerza Aérea Sur que ainda funcionava nas ilhas teria detectado vários helicópteros indo para a direção leste. Já os caças Sea Harrier teriam abandonado suas patrulhas aéreas de combate e rumado para uma localização muito diferente da de origem, o que sugere um local diferente para pouso, que seria o outro porta-aviões, o HMS Hermes.
Os britânicos confirmam um ataque naquele dia. Porém, teria sido contra o destroier HMS Exeter e a fragata HMS Avenger. Os dois navios teriam sido responsáveis pelos abates dos A-4, ambos com mísseis Sea Dart. A fumaça avistada pelo jovem aviador da Fuerza Aérea Argentina seria tão somente produto dos motores da fragata Avenger. As embarcações estariam em posição avançada, precisamente, para proteger o HMS Invencible, a cerca de 35 km a leste. O Exocet teria sido abatido em voo por tiros do canhão de 115mm.
É o que conta o Almirante John Forster “Sandy” Woodward, comandante da frota britânica no conflito. Essa versão, contudo, é distinta da inicialmente apresentada pelo Ministro da Defesa John Nott, que afirmou que caças argentinos teriam atacado mais uma vez o casco do SS Atlantic Conveyor e que apenas um caça Skyhawk foi abatido na missão.
Há indícios que os argentinos apontam como indicativos da realidade do ataque. De fato, após a guerra o HMS Invencible permaneceu na região até setembro de 1982, cuidando da defesa aérea. Porém, o trabalho só foi feito após o navio se afastar mais de cinco mil quilômetros para, dizem os britânicos, fazer a troca dos seus motores em pleno mar. Também há a informação, negada pela outra parte, de uma redução da atividade aérea dos caças britânicos nos dias seguintes, o que é negado pela Royal Navy. Anos depois, o brigadier Guillermo Saravia, da Fuerza Aérea Argentina, disse que de fato houve um aumento do número de voos, mas com redução do seu tempo, sugerindo uma posição mais distante do navio-aeródromo.
O suposto ataque também gerou teorias da conspiração, incluindo que o porta-aviões foi afundado e substituído pelo HMS Illustrious no seu suposto retorno ao Reino Unido. O maior argumento contra isso seria, em quatro décadas, ninguém revelar tão forte segredo. Porém, suposta troca de motores em alto mar, por exemplo, supõe a possibilidade de um reparo de maiores proporções. Por outro lado, há dúvidas sobre a capacidade de jovens aviadores identificarem corretamente um alvo voando a cerca de 750 km/h a poucos metros sobre a água e em extrema tensão.
A credibilidade argentina ficou em xeque com as fake news propagadas pela imprensa, incluindo fotos alteradas (de qual origem?!) e até uma imagem publicada, mas que claramente apresentava o porta-aviões norte-americano USS Wasp atingido na Batalha de Midway, na Segunda Guerra Mundial.
Com mais credibilidade, a Revista Marina, do Chile, fez um artigo científico com análise de várias fontes sobre o tema. E conclui que ainda não há evidência clara sobre o que realmente aconteceu naquele dia 30 de maio de 1982. “Parece possível que o Invencible foi atacado, apesar de não ter sido atingido ou pelo menos não seriamente danificado”, conclui o texto.
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