Custos crescentes, desorganização de cadeias globais e riscos de uma guerra comercial sem precedentes. São esses os principais temores do setor aeronáutico dos Estados Unidos com a nova política de taxações ao comércio internacional imposto pelo governo de Donald Trump. A estratégia protecionista é apresentada como uma forma de proteger a indústria nacional, porém, o setor já é o segundo que mais gera superávit comercial para os EUA – US$ 114 bilhões anuais, atrás apenas do petróleo.
A Europa, alvo de tarifas de 20%, avalia retaliações que podem incluir boicotes à Boeing por parte de companhias estatais, seguindo o exemplo da China durante a crise do 737 MAX. A Airbus, embora tenha menos de 10% de seu backlog direcionado aos EUA, enfrenta incertezas na cadeia compartilhada com a rival americana. Empresas norte-americanas já relataram operações caóticas, como o transporte às pressas de estoques do México para armazéns nos EUA, paralisando fábricas. Para fornecedores menores, a sobrecarga burocrática e a renegociação de contratos – que não preveem repasses de tarifas a companhias aéreas – são ameaças.
O principal ponto apontado por especialistas é que a mudança de postura não era necessária para o setor e pode até ser prejudicial. O setor aeroespacial dos EUA é um caso de sucesso globalizado: aviões da Boeing dependem de componentes estrangeiros, assim como a Airbus utiliza peças americanas. O protecionismo também desconsidera a realidade do trabalho: com desemprego em 4% nos EUA, a mão de obra qualificada para manufatura é escassa, obrigando empresas a buscar talentos no México e em outros países.
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