Por Claudio Lucchesi
Produzido em 2008, Sky Crawlers: Eternamente, é uma animação japonesa dirigida por ,Mamoru Oshii. O filme se baseia, de fato, na graphic novel de mesmo nome criada por ,Hiroshi Mori, e lançada em 2001. Curiosamente, embora a saga de um grupo de jovens pilotos de caça, vivendo num período histórico “alternativo” tenha gerado não apenas o filme longa-metragem, mas também um videogame, a graphic-novel original não havia sido traduzida para a Europa até o início deste ano. Mas o que nos interessa aqui é o filme, lançado no Japão pela Warner Bros. Japan em 2 de agosto de 2008, e já disponível no Brasil numa edição em DVD e em blu-ray, com legendas, pela Sony Pictures.
O filme se diferencia marcadamente de outra primorosa animação japonesa recente, tematizada na aviação, “Porco Rosso”. Ao contrário deste, a obra de Oshii não se situa num espaço geográfico real, nem numa época histórica específica, com suas referências e marcas. Totalmente ao contrário, “Sky Crawlers” se passa num país imaginário, situado numa Europa sem muitas referências. Sobretudo, a saga se passa num período histórico “alternativo” – e aí está uma das chaves do charme desse filme. Quase com a liberdade de um “universo paralelo”, Oshii mistura bases aéreas típicas da 2ª Guerra Mundial, carrões dos anos 50, uma certa atmosfera desesperançada de policial noir, e uma história com traços de “1984” e “Blade Runner”. Num mundo que conseguiu solucionar as guerras e vive em paz, os governos realizam “guerras forjadas” para relaxar a tensão da sociedade – acostumada a milênios de conflitos armadas e agressões. Tais “encenações” tem a forma de uma guerra que nunca acaba (não falei em Orwell!?), realizada por corporações privadas que administram “forces aéreas” próprias. Tudo isso fica subentendido no filme, pois Oshii não subestima a inteligência do espectador e deixa, portanto, que este monte por si o quebra-cabeças. É assim, também, que se descobre sobre os “kildren”, humanoids produzidos por engenharia genetic, eternamente adolescents, criados especificamente para serem os aviadores dos duelos aéreos,.
E o que voam estes pilotos?
Bem, aí é pura diversão – e delírio. O tipo principal é claramente inspirado no caça avançado japonês Kyushu J7W Shinden, cujo protótipo voou cerca de um mês antes do fim da 2ª Guerra Mundial. Quanto aos outros, são uma atraente mistura do que de mais ousado (e ensandecido) havia nas pranchetas japonesas e alemães no final da guerra. Você vai se divertir identificando tipos “anabolizados” de programas reais, como os do caça pesado pusher Mansyu Ki-98, o hidro quadrimotor Blohm & Voss P.144 (“convertido” em avião-tanque!), e o bombardeiro asa-voadora Messerschmitt P.08.01 – só pra citar alguns. Tudo a pistão!
E as cenas aéreas são mesmo de tirar o fôlego!
Com o trabalho de animação realizado pela Production I.G, o filme tem roteiro de Chihiro Itō e música (muito boa, aliás) de Kenji Kawai. Já a animação gerada por computador (CG) em 3D foi feita pelo Studio Polygon Pictures, o mesmo do filme anterior do diretor Oshii, “Ghost in the Shell 2: Innocence”. Em entrevista, o autor da graphic-novel, Mori, disse que a saga dos “sky crawlers” foi o mais difícil de seus trabalhos para ser adaptado, e que ele de fato só consentiu na animação em longa-metragem após conhecer o grau de envolvimento do diretor, Oshii, com o projeto. De fato, apesar de se tratar de uma animação, Oshii fez questão de que todo o núcleo de criação do filme viajasse com ele para conhecer pessoalmente as duas locações principais – a Irlanda e a Polônia. Na entrevista do making-off, ele comenta que não acredita em criação (numa animação) a partir de fotos, ou mesmo filmes, dos ambientes e lugares. Para ele, tal processo exige que os artistas conheçam por si, possam tocar e andar, por onde tirarão suas referências.
No caso de “Sky Crawlers”, ele escolheu o litoral irlandês como ambientação física para o filme, com seus rochedos e falésias, meteorologia e natureza. Já os ambientes humanos, das bases aéreas às cidades, foram diretamente inspirados no Leste Europeu – na maior parte, na Polônia. Numa das viagens, Oshii chegou a levar sua equipe a uma base da Força Aérea Polonesa, especificamente para conhecer os hangares (especialmente, os reminiscentes da 2ª Guerra Mundial e do período comunista), os quais foram analisados e fotografados em detalhes como fechaduras, carrinhos de mão de extintores de incêndio, e estrutura.
Todo esse cuidado, com uma arte magistral, rendeu frutos. O filme integrou a seleção oficial do 65º Festival Internacional do Filme de Veneza, ganhando o Prêmio do Festival de Melhor Filme Digital Futuro; e mais tarde teve três premiações no prestigiado Festival Internacional de Filmes da Catalunha – o Prêmio Crítico José Luis Guarner, o de Melhor Trilha Sonora (para Kenji Kawai), e um prêmio dado pelo Júri Carnet Jove Jury de “melhor filme para audiência jovem”. E, como seria de se prever nos tempos de hoje, a saga dos “sky crawlers” ganhou, em outubro de 2008, a sua versão em videogame, que usa a plataforma Wii.
Então, se você curte animação, não há tempo a perder. Voe com os “sky crawlers”.