Há exatos 50 anos, em 14 de agosto de 1974, voava pela primeira vez o Panavia Tornado, aeronave supersônica, com asas de geometria variável, que significou um salto operacional nas quatro forças aéreas em que operou: Alemanha, Arábia Saudita, Itália e Reino Unido. Mais além, o Tornado se destacou por ter sido fruto do contexto político do início da União Europeia, com países do velho continente se unindo em busca de um desenvolvimento em comum.
O nome “Panavia”, do Tornado, é referente à empresa Panavia, criada com a participação da Alemanha Ocidental, Itália e Reino Unido. Diversas empresas participaram do desenvolvimento, entre elas BAC (agora BAE Systems), MBB (agora parte do grupo Airbus) e Aeritalia (agora parte do grupo Leonardo), além de os motores RB199 serem fruto da união da Rolls-Royce, MTU e Fiat.
Com mais de 950 unidades produzidas e mais de três milhões de horas de voo acumuladas, o Panavia Tornado foi um dos principais vetores da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) nos anos 80. O jato foi criado para penetrar no leste europeu a poucos metros sobre a copa das árvores, em velocidade supersônica e com até nove toneladas de armamentos, incluindo artefatos nucleares. Havia capacidade de autodefesa, com mísseis Sidewinder ou ASRAAM, porém a capacidade ar-ar mais avançada ficou para a versão ADV, de defesa aérea, com cerca de 160 unidades operadas pelos britânicos até 2011 e 24 pela Arábia Saudita, único cliente de exportação, até 2006.
A Royal Air Force recebeu, ao todo, 385 Tornado, entre os ADV F2 e F3, e os IDS (de ataque), dos quais os últimos foram retirados de serviço em 2019. Além das duas dúzias de ADV, os sauditas também receberam 96 Tornado IDS, algumas dezenas ainda em uso. A Alemanha adquiriu 112 IDS para sua marinha e 245 para sua força aérea, sendo 35 da versão de reconhecimento. Já a Itália comprou 100 Tornado IDS, convertendo 18 deles para missões de reconhecimento, além de ter alugado 24 Tornado ADV F3 do Reino Unido entre 1995 e 2004.
A Guerra do Golfo, em 1991, mostrou, porém, que as necessidades operacionais eram diferentes. Os Tornado do Reino Unido e da Itália, além da Arábia Saudita, que também adquiriu o caça europeu, precisaram enfrentar uma realidade operacional bem distinta daquela planejada. Ao invés das florestas sobre os países do Pacto de Varsóvia, os alvos estavam sobre o deserto iraquiano.
Os resultados são apontados como o símbolo da necessidade de uma mudança de mentalidade militar após a Guerra Fria. Depois de anos prevendo um conflito contra os soviéticos e seus países apoiadores, era necessário avaliar outros empregos operacionais. Seis Tornado da Royal Air Force foram perdidos: um durante um ataque com munição anti pista JP233, mais um quando empregava munição guiada a laser e quatro durante lançamentos com bombas convencionais. Um Tornado italiano também foi perdido no conflito.
Fontes russas e iraquianas alegam que um ou mesmo dois dos Tornado britânicos foram destruídos por caças MiG-29 Fulcrum. Porém, não há indícios claros. Ainda durante a guerra a coalizão decidiu substituir os ataques rasantes por voos a média altura, e o Reino Unido enviou um destacamento de jatos Blackburn Buccaneer para atuarem como designadores de alvos para bombas inteligentes a serem lançadas pelos Tornado. Outro desafio foi no campo do deslocamento. No lugar de operar a partir do próprio território, foi necessário levar esquadrões inteiros para um ambiente distante, com condições geográficas distintas e um clima diferente.
Com lições aprendidas, nos anos seguintes, o Tornado participou com sucesso em missões no Iraque, Síria, Líbia, nos Balcãs e no Afeganistão. Aeronaves da Arábia Saudita também participaram no conflito no Iêmen, com pelo menos um tendo sido abatido em 14 de fevereiro de 2020.
As unidades restantes ainda estão em serviço na Alemanha, Itália e Arábia Saudita, em avançado processo de substituição nos três países.
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